Volta e meia, quando eu digo que moro em Nova York, eu recebo algum comentário meio deslumbrado com olhinhos brilhando do tipo “nossa, que luxo, né”. Eu conheço esse olhar. Muito bem até. Aliás, foi exatamente esse o olhar que eu fiz para o meu marido quando ele veio me contar que tinha surgido uma oportunidade de trabalho para ele interessante por aqui.
Já me imaginei vestindo roupas de Serena Van der Woodsen, vivendo uma vida no melhor estilo Carrie Bradshaw à la Sex and The City. Tipo esse meme:
Só esqueci que essas duas personagens têm uma coisa em comum que são bem diferentes da minha realidade: elas não têm filhos. Mas relevem, quando a possibilidade surgiu eu ainda estava grávida. Não tinha ideia do que vinha pela frente. E não é sobre isso que eu vim falar.
A verdade é que eu não posso reclamar da minha vida no quesito luxo. Moro em um apartamento com a vista mais linda que eu terei na vida, em um bairro bem legal. Vivo uma vida super confortável. Sim, as tarefas se acumulam. Sim, NY é uma cidade cansativa. No frio, então, é triste. Mas em termos gerais, posso dizer que tem dias que eu realmente viro essa mulher do café na mão (ou melhor, chá), de casaco, echarpe e correndo para o metrô. Ah, sim, metrô. Porque quem criou esse meme provavelmente não tem ideia que é mais fácil você se atrasar pegando o taxi ahahah. Mas meu conceito de luxo mudou completamente.
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Antes eu associava Nova York com luxo ao entrar em lojas onde o ítem mais barato deve custar uns 4 dígitos. Luxo era passear por bairros onde mulheres desfilam suas bolsas das marcas mais caras do mundo. Luxo era morar em um apartamento com escadas de incêndio aparentes – que são a cara de Manhattan. Luxo era andar pela neve ouvindo músicas de Natal. Patinar no gelo no Rockefeller Center. Tudo que eu considerava luxuoso tinha a ver com a romantização da cidade. Essa mesma que está aí desde sempre sendo retratada em filmes e séries. Ou então era sobre seu potencial de consumo.
Sim, confesso que continuo entrando em um clima todo especial em Dezembro. Músicas de Natal invadem todos os lugares e a cidade toda está enfeitada com luzes. Não consigo desassociar o clima da cidade e não me sentir em Milagre na Rua 34. A primeira neve do inverno é sempre mágica. Mas tirando isso, hoje o que eu acho luxuoso é outra coisa.
Para mim, hoje luxo é poder levar Arthur de bicicleta para a escola e me economizar meia hora andando. Luxo é pegar ele na escola e ir até um dos 4 parques que têm aqui perto para ele brincar mais um pouco. Luxo é um desses parques ter wi-fi e eu poder levar meu computador se precisar trabalhar de lá.
Falando em trabalhar e wi-fi, luxo é ter vários cafés para eu trabalhar. Afinal, tem dias que tem tantas coisas esperando para serem feitas em casa, que eu sei que vou me distrair. Luxo é eu poder sair de casa com meu computador. E saber que posso trabalhar até de um parque público sabendo que eu não serei assaltada. Realidade que nunca vi no Rio de Janeiro, infelizmente.
Luxo é eu poder educar meu filho em um ambiente com todos os tipos de famílias e crianças. Em uma cidade cheia de diversidade e que respeita a individualidade das pessoas. Luxo é eu perceber que a escola antiga do meu filho fechou dois meses antes do previsto e as professoras ficaram desesperadas porque não estavam se programando para serem despedidas mais cedo e todas – TODAS – já estão empregadas novamente. Apenas 3 meses depois.
Eu poderia seguir aqui falando de tantos outros luxos que meu dia a dia aqui me mostrou. Luxos que nada têm a ver com a imagem que as séries e filmes costumam nos passar. E hoje vejo que são privilégios muito mais duradouros e que me deixam muito mais feliz e preenchida do que uma bolsa ou um sapato (e olha que eu gosto de uma bolsa e um sapato). Aliás, falando em série, quem diria que hoje eu sou infinitamente mais apegada à Miranda do que qualquer outro personagem de Sex and The City.